domingo, 22 de março de 2009

Para o trabalho "Livro-cego" de Edith Derdyk, 2008. Disponível no site www.edithderdyk.com.br

Se o nome dado a um objeto, ou a um conjunto deles, nos conduz ao possível entendimento de uma intenção, este objeto, quando desvestido de sua nomeação, pode reverter o jogo proposto por aquela mesma intenção.
De um lado há o livro-cego e, de outro, silentes objetos.
Objetos prensados, empilhados, perfurados.
Livro é o nome de todos eles. Todos eles, adjetivados pela cegueira.
Livro-cego.
Mas não. Não existem livros-assim.
E não existem livros-assim porque eles sabem nos ver, negando a parte que lhes foi dada, esta parte cega de seu próprio nome. Um nome breve. Cego adjetivo que parece traduzir a negação do olhar.

Reversão.

A cegueira aqui é outra. Uma cegueira transmutada em vozes caladas, e igualmente prensadas, empilhadas e perfuradas. São elas que não nos vêem porque não nos podem falar.
São grafias ocultas entre folhas trancadas; narrativas não reveladas; histórias impossíveis de serem ouvidas. Sonoridades emudecidas.

Silêncio.

Entretanto, se desvestidos estivessem de suas nomeações, estes objetos haveriam de se perder num vácuo. Por isso livro-cego, se não for condição, é um nome. E por isso ele se impõe, seja pela negação do olhar, do ouvir ou do falar.

Carlos Camargo

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