domingo, 22 de março de 2009

Para exposição "Em Branco", Fundação Clóvis Salgado, Belo Horizonte, 2006

DO BRANCO
Alvorecer: primeira claridade da manhã. Albente cælo. Alva manhã. Alba.
Albus: expressão latina cujo significado traduz, não apenas o primeiro brilho da luz solar, mas, também, traduz a cor branca, cuja intensidade termina por envolver aquela mesma luz. Assim, branca é a cor da manhã. Um luzir tão pleno que faz acender outras cores e, nelas, as existências que a escuridão noturna costuma roubar. É, ainda, um luzir que arde, queima e, por fim, escurece.
Luzir e queimar são incandescências. Se luz, clareia, queima aquilo que mostra. Se queima, exaure a própria luz. Apaga. Num passado remoto, havia uma única expressão para traduzir este luzir e este queimar: Bhleg. Percebemos, então, neste único termo, o largo percurso da existência à inexistência, do claro ao escuro, do mostrar ao ocultar. Não por acaso esta palavra, bhleg, gerou, por um lado, o blac, depois o branco e, por outro lado, o blak, depois black, o preto.
Enigmáticos são os caminhos das palavras. Por meio deles, o branco soube reunir o ser ao não-ser, o ver ao não-ver, a presença à ausência. Somado à ciência de Newton, este branco, se pigmento, é cor. Existe. Se luz, não é cor. Inexiste.
O branco, porém, não encerra apenas na presença/ausência da cor esta sua paradoxal condição. Neste arco, outros espectros se revelam. São memórias, idéias e sonhos. Ações transmutadas em elementos concretos, como são as obras que ora se colocam diante de nós, frutos de fazeres, concepções e autorias distintas.
Branco, portanto, é o nome daquilo que, neste momento e em conjunto, se vê e se lê.

Carlos Camargo

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